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terça-feira, 4 de março de 2025

Pesquisa inédita mostra novo tipo de coronavírus em morcego no Ceará




Ricardo Durães, professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, lidera o estudo


Pesquisadores brasileiros, em colaboração com a Universidade de Hong Kong, identificaram pela primeira vez na América do Sul um novo coronavírus em morcego capturado no Ceará, com semelhanças ao Mers-CoV, vírus responsável pela Síndrome Respiratória do Oriente Médio. Além disso, os pesquisadores também identificaram o coronavírus HKU5, similar ao recentemente descrito na China. A descoberta inédita foi liderada pelo professor Ricardo Durães, da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo, com a aluna de doutorado Bruna Stefanie Silvério. O estudo foi publicado no periódico Journal of Medical Virology.

O ineditismo da pesquisa de Durães coloca o Brasil na vanguarda dos estudos sobre coronavírus emergentes, reforçando a relevância da colaboração internacional e do investimento em ciência para a prevenção de futuras epidemias e pandemias.

"Este estudo sublinha a importância crítica da vigilância e da epidemiologia molecular viral, bem como da cooperação científica na detecção de vírus emergentes. A descoberta desses coronavírus em morcegos no Brasil, não só expande nosso entendimento sobre a diversidade viral, mas também reforça a necessidade e a importância dessas abordagens para a prevenção de futuras epidemias e pandemias. Nosso trabalho conjunto com a Universidade de Hong Kong, em colaboração com o LACEN-CE, é um exemplo da importância das colaborações científicas para o avanço das pesquisas na área", explica Ricardo Durães, docente na Pós-Graduação e pesquisador dos Departamentos de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia, e de Morfologia e Genética da EPM/Unifesp.

Como foi feito o estudo

O trabalho identificou sete coronavírus (CoVs) distintos em morcegos, incluindo um intimamente relacionado ao causador da Mers – doença respiratória viral que matou mais de 800 pessoas em diversos países desde 2012. Esse novo coronavírus apresentou 82,8% de cobertura genômica em comparação com o Mers-CoV, evidenciando uma ligação evolutiva relevante. Para essa análise, foram aplicados ensaios moleculares, sequenciamento de RNA e análise evolutiva, técnicas avançadas que permitiram a caracterização detalhada dos vírus encontrados.

Análises da proteína spike revelaram altas similaridades com variantes de CoVs relacionadas ao Mers encontradas em humanos e camelos. Além disso, indicaram a presença de resíduos capazes de interagir com o receptor DPP4, o mesmo utilizado pelo Mers-CoV para entrar nas células humanas. Essa descoberta reforça a importância da vigilância ativa sobre os coronavírus circulantes em animais silvestres, uma vez que a proteína spike é fundamental para o potencial de transmissão em humanos.

"Ainda é cedo para confirmar se este vírus pode infectar humanos. Contudo, identificamos segmentos da proteína spike do vírus [responsável por se conectar à célula do mamífero e iniciar a infecção] que indicam uma possível interação com o mesmo receptor usado pelo Mers-CoV. Pretendemos conduzir experimentos em Hong Kong ainda este ano para explorar isso mais a fundo", reforça Bruna Silvério, primeira autora do estudo.

Vigilância contínua

Embora ainda não haja evidências de que esse novo coronavírus seja capaz de infectar humanos ou causar doenças, o estudo representa um avanço significativo na compreensão da ecologia viral dos morcegos na América do Sul. Análises adicionais estão planejadas para avaliar o potencial zoonótico deste vírus e compreender melhor sua evolução. A descoberta ressalta a necessidade de vigilância contínua e de iniciativas científicas conjuntas para antecipar e minimizar possíveis riscos à saúde pública global.

Fonte: UNIFESP

segunda-feira, 3 de março de 2025

Acadêmicos do Tatuapé: A Arte Como Ferramenta de Denúncia e Reflexão



    Por: Claudia Souza

    A Acadêmicos do Tatuapé brilhou na avenida com um desfile impactante, provocativo e absolutamente relevante. Em tempos de silenciamento e desrespeito às liberdades individuais, a escola trouxe para o Sambódromo uma verdadeira obra de arte em movimento, que transcendeu o entretenimento e se consolidou como um manifesto contra injustiças sociais.

    Muito se falou sobre o carro abre-alas da agremiação, que gerou polêmica entre setores conservadores. Vários religiosos protestaram em lives sobre o carro abre-alas assustador. No entanto, a leitura atenta do enredo revela um mergulho profundo em uma era de desigualdade, onde os pilares da justiça brasileira são questionados e expostos em sua fragilidade. Longe de representar simbolismos demoníacos, como alegaram alguns críticos desavisados, a escola denunciou a farra do sistema judicial, em que a balança da justiça nem sempre se equilibra para todos. O baixo astral da alegoria foi acompanhada por um religioso de branco benzendo a alegoria com um incenso na cerca do corredor de proteção.

    A cenografia foi arrebatadora: cofres se abriam e despejavam cifrões, escancarando a influência do poder econômico sobre a justiça. A icônica estátua da justiça segurava um homem morto, um retrato contundente do sacrifício de inocentes. Os componentes da bateria, vestidos com togas, deram um show à parte, provando que a energia e o ritmo da escola permanecem impecáveis mesmo em um desfile carregado de reflexão social.




    Por fim, a imagem poderosa de um anjo guerreiro elevou a mensagem do enredo, trazendo um povo clamoroso por paz, justiça e resistência. E, entre os elementos da cena, um único rato de preto, discreto, mas significativo, sintetizava com genialidade o que a escola quis evidenciar: os verdadeiros vilões do sistema raramente estão sob os holofotes.

    A Acadêmicos do Tatuapé não apenas desfilou; ela gritou em alto e bom som contra a impunidade e o desrespeito aos direitos fundamentais. E fez isso com a beleza, a grandiosidade e a potência que só o carnaval pode proporcionar. Um desfile memorável, uma arte transformadora e uma lição de coragem.

Mais fotos (Crédito: EBC/Agência Brasil Oficial)















Letra do Samba Enredo:


Familia Tatuapé, eu te amo

Bata seu tambor, respeite a minha fé
Reza pra quem é de aleluia
Ou pra quem é do axé

Tatuapé, o poder do povo preto
Está presente em nós
Marginalizados, excluídos
Que a justiça seja sempre a nossa voz!

A escola da emoção
Veste a toga da justiça
Podem me julgar, falar o que quiser
De Luther King e Mandela, inspiração
Respeite o meu Tatuapé!

O caos imperava, oh dor inclemente!
É olho por olho, é dente por dente
Meu povo tá sofrendo mil anos ou mais

Qual será a receita da paz?
Qual será a receita da paz?

O julgamento talhou mandamentos
Teus olhos enxergam e fingem não ver
Em nome da fé, pecou sem saber
Com a bênção do pai sou igual a você

Obanixé Kaô, Xangô
Clamei ao rei de Oyó, Justiça
A intolerância que assombra a nossa luz
Chorou Maria aos pés da Santa Cruz

Flor mulher
Templo sagrado pra se admirar
Sublime é, orgulho em toda forma de amar
A liberdade é nossa voz, é resistência
Chega de ódio, de tanta violência

Bata seu tambor, respeite a minha fé
Reza pra quem é de aleluia
Ou pra quem é do axé

Tatuapé, o poder do povo preto
Está presente em nós
Marginalizados, excluídos
Que a justiça seja sempre a nossa voz!

A escola da emoção
Veste a toga da justiça
Podem me julgar, falar o que quiser
De Luther King e Mandela, inspiração
Respeite o meu Tatuapé!

O caos imperava, oh dor inclemente!
É olho por olho, é dente por dente
Meu povo tá sofrendo mil anos ou mais

Qual será a receita da paz?
Qual será a receita da paz?

O julgamento talhou mandamentos
Teus olhos enxergam e fingem não ver
Em nome da fé, pecou sem saber
Com a bênção do pai sou igual a você

Opanixé Kaô, Xangô
Clamei ao rei de Oyó, Justiça
A intolerância que assombra a nossa luz
Chorou Maria aos pés da Santa Cruz

Flor mulher
Templo sagrado pra se admirar
Sublime é, orgulho em toda forma de amar
A liberdade é nossa voz, é resistência
Chega de ódio, de tanta violência

Bata seu tambor, respeite a minha fé
Reza pra quem é de aleluia
Ou pra quem é do axé

Tatuapé, o poder do povo preto
Está presente em nós
Marginalizados, excluídos
Que a justiça seja sempre a nossa voz!

A escola da emoção
Veste a toga da justiça
Podem me julgar, falar o que quiser
De Luther King e Mandela, inspiração
Respeite o meu Tatuapé!

Respeite o meu Tatuapé!