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quinta-feira, 13 de junho de 2024

Flexibilização Fiscal: Ameaça à Saúde e Educação?























**Por [Claudia Souza]**


Em meio a uma crise fiscal crescente, o Ministério da Fazenda tem analisado uma proposta que promete acender um debate fervoroso: alterar as regras orçamentárias para saúde e educação. A ideia é limitar o crescimento dessas despesas a 2,5%, seguindo a lógica do novo arcabouço fiscal. A medida visa controlar os gastos públicos, mas traz consigo sérias implicações para setores essenciais. Atualmente, a Constituição assegura um piso de 15% da Receita Corrente Líquida (RCL) para saúde e 18% da Receita Líquida de Impostos (RLI) para educação. Contudo, segundo o economista e professor da Faculdade do Comércio de São Paulo, Rodrigo Simões, esses percentuais, embora fundamentais para garantir um investimento mínimo, já não se encaixam no orçamento público brasileiro.

“Hoje, enfrentamos o desafio de uma Constituição com percentuais mínimos de investimento em saúde e educação que já não cabem mais no orçamento público brasileiro. Querem tentar segurar esses pisos para liberar recursos para outras áreas”, esclarece Simões. Um relatório do Tesouro Nacional estima que a flexibilização poderia liberar até R$ 131 bilhões até 2033, destinados a outras áreas de custeio e investimentos. (Brasil 61)

As projeções do governo federal, conforme dados da Câmara dos Deputados, indicam que os pisos de saúde e educação somarão R$ 336,3 bilhões em 2025, consumindo 44% do orçamento para despesas não obrigatórias. Esse percentual pode subir para 51% em 2026, 63% em 2027 e atingir 112% em 2028, resultando em um déficit de R$ 12 bilhões para outras áreas.

Para Simões, a medida é essencial. “Se o governo não busca fechar o orçamento de uma forma que ele consiga cumprir o próprio orçamento prometido, isso só gerará mais endividamento público”, alerta. Segundo ele, os recursos liberados poderiam ser redirecionados para infraestrutura, inovação e tecnologia, desenvolvimento regional e fortalecimento da segurança pública, áreas que também necessitam urgentemente de investimento. (Brasil 61)

No entanto, a proposta de flexibilização não é unânime. O economista Newton Marques destaca a necessidade de reestruturar as contas públicas com foco nas reais prioridades. “O governo está preocupado com as críticas sobre o déficit zero prometido, uma vez que as receitas não crescem como esperado e as despesas continuam aumentando”, observa.

O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconhece a complexidade da questão e ressalta que diversas alternativas estão sendo discutidas. “São vários cenários que estão sendo discutidos pelas áreas técnicas, mas nenhum foi levado ainda à consideração do presidente. Na discussão do orçamento, levaremos algumas propostas ao presidente, que pode aceitar ou não, dependendo da avaliação que ele fizer”, afirmou Haddad. (Brasil 61)

A proposta de flexibilizar os pisos constitucionais para saúde e educação representa uma tentativa ousada de equilibrar o orçamento público. Contudo, é imperativo que o governo considere cuidadosamente os impactos dessa medida nas áreas mais vulneráveis da sociedade. A saúde e a educação são pilares essenciais para o desenvolvimento do país, e qualquer alteração em seus investimentos deve ser analisada com cautela e responsabilidade.

Essa discussão se coloca no centro de um dilema maior: como priorizar investimentos em um cenário de recursos escassos, sem comprometer o futuro das próximas gerações? O governo precisa equilibrar a urgência de controlar os gastos públicos com a necessidade de garantir investimentos adequados nas áreas essenciais, para que o Brasil possa crescer de forma sustentável e inclusiva.


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