Por: Claudia Souza
Mal passou a febre de divergências entre os internautas causada pela demissão do então Ministro Sérgio Moro, e o cenário político tenta se equilibrar depois de um tropeção na pedra da dúvida e da desconfiança.
Milhares de pessoas se manifestaram em defesa do Presidente Jair Bolsonaro e de Sérgio Moro. O lamentável episódio que desnorteou o ex-ministro foi a possibilidade de liderar um departamento de justiça em que o Presidente da República pudesse ter acesso à informações privilegiadas, não só referentes ao seu governo, como às possíveis investigações que o envolveram num atentado durante a sua campanha eleitoral, bem como aos processos judiciais em que seus filhos estão envolvidos.
Dos possíveis crimes que assombram a família Bolsonaro, o que mais preocupa o patriarca é a questão relacionada ao filho de codinome 01, Flávio Bolsonaro, que quando deputado estadual no Rio de Janeiro, teria feito um procedimento apelidado de “Rachadinha” em que os funcionários de seu gabinete tinham que devolver uma parte dos seus salários. Segundo a imprensa, o esquema era administrado por um funcionário chamado Fabrício Queirós, chefe do gabinete. Esse processo ainda encontra-se em andamento e somente o diretor da Polícia Federal e o Ministro da Justiça e da Segurança Pública poderiam ter acesso às informações das futuras ações da PF, como relatórios de investigações e futuros procedimentos, como possíveis ações de busca e apreensão, horários, etc.
Além disso, o então Ministro Sérgio Moro, conhecendo os processos da Lava-Jato, também teria acesso privilegiado a muitas informações sigilosas que dizem respeito a grande parte de parlamentares e até ministros envolvidos, como seria o caso do presidente da Câmara Rodrigo Maia (codinome Botafogo), em que a Polícia Federal teria encontrado nos sistemas da Odebrecht repasses de R$1.458.100, motivo esse que seria relevante para justificar a “antipatia” de Maia por Moro, logo no inicio de seu mandato.
Maia sabe que Moro tem conhecimento de informações privilegiadas de quando era juiz, mas não pode tomar medidas porque muitas provas que poderiam haver, já foram destruídas.
Sérgio Moro, trabalhando diretamente com o Diretor Geral da Polícia Federal da sua confiança, obteria informações sigilosas de várias pessoas envolvidas nos crimes da Lava-Jato e que circulam livremente pelos corredores do Palácio do Planalto.
Todas as tentativas de conciliações com Bolsonaro, na intenção do famoso “toma-lá, dá-cá” entre os partidos, foram rechaçadas pelo presidente devido a promessa de campanha, por isso, várias ações do presidente também foram reprovadas, por retaliação com o objetivo de medir forças para que ele se curve e faça concessões.
O famoso centrão está flertando há muito tempo com o Presidente Bolsonaro e uma das últimas investidas foi a defesa que Roberto Jefferson fez ao transmitir à imprensa denúncias de um conluio envolvendo o presidente da câmara Deputado Rodrigo Maia e do Senador Davi Alcolumbre para derrubar o presidente.
Bolsonaro assistiu e transmitiu em uma live a reportagem para que seus seguidores assistissem a fim de apoiá-lo.
A tentativa de Maia e Alcolumbre foi desmascarada publicamente e a única forma de desmentir a revelação é mantendo-se imóvel, sem tomar nenhuma medida que possa reverter num processo de impeachment. A iniciativa de derrubada de Bolsonaro, tendo como pretexto os pedidos de impeachment que já estavam protocolados antes mesmo do pedido de demissão de Moro, não teriam como objetivo afastar totalmente o presidente do poder, pois o maior medo de todos os parlamentares é que o Brasil caia nas mãos de um general como o vice Hamilton Mourão. Isso seria o fim do que eles chamam de democracia.
Sérgio Moro facilitou aos envolvidos no escândalo da Lava Jato, a obtenção de tempo para que sejam realizadas as mudanças favoráveis para uma neutralização dos processos com o apoio do aparato judicial que está dividido agora entre o Ministério da Justiça e o STF com peças chaves encarregadas da tarefa e as votações de seus processos que levam décadas para serem julgados.
PEDIDOS DE IMPEACHMENT CONTRA BOLSONARO
São 28 pedidos de impeachment protocolados e que estão na mesa do Presidente da Câmara Rodrigo Maia aguardando a abertura de um processo.
Bolsonaro se elegeu com a pauta dos bons costumes, valores cristãos e combate à corrupção, motivo principal que fez com que ele se aproximasse de Sérgio Moro que era um “Selo de Qualidade” para estabelecer credibilidade à equipe presidencial. Dentro desse discurso apoteótico de cidadão glorioso e honesto, o que é raro dentro da política, Bolsonaro fortaleceu a opinião pública positiva, agregando a si os inúmeros seguidores e admiradores da figura heróica do combatente da lei Sérgio Moro, e de apoiadores militaristas, o que não foi difícil convencer à todos, afinal, os arquétipos heróicos dos brasileiros, são os desenhos animados que costumamos assistir por décadas como Batman e Robin, Vespa e Homem Formiga, Arqueiro Verde e Lanterna Verde, etc., enfim, “todo herói tem um parceiro”... Assim, Jair Bolsonaro havia encontrado na figura de Moro, o parceiro ideal para combater a insegurança e a injustiça tão disseminada pelas crises políticas e uma cicatriz aberta nos corações brasileiros.
Tal atitude estremeceu a Banda podre do governo que estava com “culpa no cartório” e imediatamente iniciou-se um forte trabalho de desconstrução da imagem de Sérgio Moro e também do presidente da República.
Denúncias de que Moro havia cometido irregularidades durante as investigações da Lava-Jato, com aqueles ataques de hackers aos celulares e também as fortes denúncias de crimes cometidos pelos filhos de Bolsonaro, com o objetivo de atingi-lo; revelações, que ainda não tinham sido ventiladas e que estariam bem escondidas debaixo dos tapetes. O fato é que foram encontradas evidências que ainda estão sendo investigadas e enquanto isso, os boatos disseminam todo tipo de suspeitas e descréditos na veracidade de depoimentos e argumentações.
O Presidente Bolsonaro, não poderia imaginar que nesse pequeno percurso de pouco mais de um ano de governo, tantas novidades podres poderiam emergir das profundezas do inferno para desequilibrar o seu governo e contaminar as peças chaves do seu ministério. O instinto paterno demonstrou-se maior que o patriótico e o Brasil parece estar acima de tudo, desde que seja fora de seu ambiente familiar.
As pressões para a retirada de poder do seu coadjuvante justiceiro seguiram de vento em popa: COAF, Divisão do departamento e por fim, a tentativa de nomear um Diretor da Polícia Federal, com mais confiança do presidente do que de Sérgio Moro.
Sérgio Moro há tempos já vinha sentindo não só as demonstrações de ataque de Rodrigo Maia, como também dos filhos de Bolsonaro. Percebeu também que as peças do jogo estavam se movimentando para um caminho que inevitavelmente o levaria a contribuir com irregularidades com as quais ele sempre combateu.
Mesmo que isento de responsabilidade de futuros vazamentos de informações da Polícia Federal, o amanhã não o isentaria de admitir que desconheceria trâmites pouco ortodoxos do presidente em defesa de sua prole.
Sérgio Moro tomou a decisão na hora certa, antes que respingasse no seu futuro a saliva amarga de declarações mentirosas. Perdeu muito, pois cometeu o grave erro de confiar em declarações verbais, públicas e noticiosas que saíram da boca de um político. Foi muito inocente se acreditou na politicalha do presidente, que daria sim, todos os instrumentos com carta branca, desde que Moro fosse seu governado. Quando Sérgio Moro abriu mão do cargo de Ministro, provou que veio para servir ao Brasil e não ao presidente.
Todos passaram o final de semana, esperando que a Rede Globo fosse trazer novas provas do celular de Sérgio Moro ou que ele fosse se autopromover na emissora, mas o agora advogado e ex-ministro e juiz se manteve discreto.
Já no início da semana, na segunda-feira 27/4, o cenário político trouxe novas revelações. Todos ficaram ansiosos para saber qual o desfecho, os nomes dos indicados e como os políticos se comportariam.
A mesa de Rodrigo Maia amanheceu com mais pedidos de impeachment protocolados, e ao dar a sua entrevista, demonstrou uma certa compreensão da situação, mas nenhum tipo de imediatismo para uma tomada de decisão. Promoveu a pauta de retomada do governo pós pandemia e segundo a imprensa, se dispôs a analisar apenas 1 pedido, que provavelmente ficará como uma carta na sua manga, seguindo a mesma estratégia do seu antecessor Eduardo Cunha, quando separou apenas uma denúncia contra a ex-presidente Dilma. Ao seu lado, bem abatido, o presidente Bolsonaro parecia conformado com o seu destino de ter que voltar mais uma vez atrás em sua palavra e repensar a impossibilidade da política do “toma-lá, dá cá” no seu governo.
Para os políticos e influentes, existe um mérito na justiça brasileira que consiste na proposital morosidade dos processos, bom proveito de garantias de ilicitude por um longo período e, facilitação e transparência de medidas processuais e investigativas que praticamente avisam os réus quando a Polícia Federal está chegando, possibilitando toda sorte de manipulação de possíveis provas incriminatórias.
Os personagens desse texto amanheceram mais aliviados sem a presença de Sérgio Moro, pois finalmente as peças chaves que norteiam encaminhamentos de processos e informações sigilosas, agora estarão sob total controle da Presidência da República. Tal controle garantirá uma hegemonia entre os poderes. Talvez com informações privilegiadas o presidente poderá dormir em paz e quem sabe, não precisará se curvar aos lobos que tentarão aliciá-lo com pressões de toda ordem. Como ele mesmo diz: “Conheça a verdade e a verdade vos libertará”.
Fontes:
https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/ministro-do-stj-nega-suspender-investigacao-de-rachadinha-de-flavio-bolsonaro/
https://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2019-04-11/pf-identifica-r-14-milhao-para-codinomes-atribuidos-a-rodrigo-e-cesar-maia.html
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