Ao aprovar na noite desta terça-feira (10) as novas regras para o financiamento da saúde, o Congresso Nacional desconsiderou o apelo de mais de 2,2 milhões de brasileiros que apoiaram o Projeto de Lei de Iniciativa Popular “Saúde+10”. Para o presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital, a aceitação da aplicação mínima em saúde de 15% da Receita Corrente Líquida (RCL) da União até 2020 – dispositivo incluído na PEC do Orçamento Impositivo (358/13) – prejudica essa histórica luta da sociedade civil organizada.
Nos últimos cinco anos, entidades ligadas ao setor, dentre elas o CFM, conseguiram reunir milhões de assinaturas em prol do Saúde+10 (PLP 321/13), que pedia a destinação de 10% da Receita Corrente Bruta (RCB) da União para o Sistema Único de Saúde (SUS). Além de não responder aos anseios da população, a alteração aprovada em segundo turno pela Câmara dos Deputados, na avaliação de Vital, agrega muito pouco em termos de novos recursos e traz danos imediatos.
“Sem efetivo aumento de recursos ao setor, continuaremos enfrentando problemas como a superlotação de serviços de urgência e emergência e a falta de leitos, equipamentos e insumos hospitalares. Além disso, a carência financeira pode ainda ampliar os problemas enfrentados pela rede de hospitais conveniados, em especial filantrópicos e santas casas, que recentemente sofreram com sucessivos atrasos e falta de pagamentos”, disse.
Sensibilização – Na tentativa de sensibilizar mais uma vez os parlamentares, o CFM encaminhou no início desta semana um alerta a todos os senadores e deputados federais, no qual repudiava a aprovação das regras nos moldes atuais. Além da autarquia, entidades como a Associação Brasileira de Economia da Saúde (Abres), o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), dentre outras, também se manifestaram contrárias aos dispositivos da PEC 358/2013 que alteraram o percentual do financiamento federal do SUS.
“É consenso entre autoridades, parlamentares e sociedade que o SUS precisa de mais recursos. Tínhamos na PEC do Orçamento Impositivo uma oportunidade de efetivamente ampliar essa base de financiamento”, lamentou o presidente do CFM. Para ele, um aumento real de verbas poderia dar solução às sucessivas crises pelas quais passa a rede pública. “Defendemos um projeto que corresponderia a um acumulado de R$ 257,1 bilhões em cinco anos – uma proposta muito mais vantajosa do que a confirmada pelo Congresso”.
Impacto mínimo – Segundo o texto aprovado pela Câmara dos Deputados, haverá uma ampliação progressiva dos recursos para a saúde nos cinco anos seguintes ao da sua promulgação. No primeiro ano, a aplicação mínima em saúde será de 13,2% da RCL; no segundo ano, 13,7%; no terceiro, 14,1%; no quarto, 14,5%; e, no quinto ano em diante, 15%.
Estimativas da Abres indicam, no entanto, que a fixação do percentual pela RCL resultará num acumulado de recursos, em cinco anos, de apenas R$ 64,2 bilhões (se tomado como base 15% da RCL em todo este período). Segundo a entidade, 10% da RCB seria equivalente a algo em torno de 18,7% da RCL. Se aprovado, o projeto do Saúde+10 permitiria ao SUS contar com um aporte correspondente a 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB).
A PEC 358/13 determina ainda que 50% das emendas parlamentares individuais sejam direcionados à área da saúde. Ao invés de ser um acréscimo ao orçamento, o texto permite que o Executivo contabilize esta verba no percentual mínimo que a União deverá aplicar por ano no setor.
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Aqui você poderá fazer suas denúncias e comentários.
Se você recebeu algum comentário indevido. Utilize-se deste canal para sua defesa.
Não excluiremos os comentários aqui relacionados.
Não serão aceitos comentários com palavras de baixo calão ou denúncias infundadas. Aponte provas caso queira efetuar suas denúncias, caso contrário, seu comentário será removido.