Essa semana a obesidade foi notícia de primeira página em alguns dos principais jornais do país em virtude da divulgação realizada pelo Ministério da Saúde (MS) de um estudo que mostra o sobrepeso e suas consequências, sobretudo o Diabetes Tipo 2, como um problema muito sério e que deverá ser atacado, caso o Brasil não queira se equivaler, em poucos anos, a números americanos de obesos mórbidos.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica(SBCBM) vê com enorme preocupação a expansão desses dados. A SBCBM apóia firmemente medidas de prevenção desse desastre com atitudes de educação, mudança de estilo de vida e higiene dietética. Mas, se admira que nessas matérias não se tenha tocado no tratamento da obesidade e do Diabetes já estabelecidos, muito menos no seu tratamento cirúrgico.
Há no estágio atual de conhecimento o consenso que a obesidade é uma doença crônico-degenerativa cujo melhor tratamento é o cirúrgico, quando se compara as complicações da evolução da doença tratada clinicamente com os pacientes operados. Está além do escopo desse artigo discutir a via de acesso e o tipo de operação. Entretanto, diversos estudos mostram cabalmente que, não só os doentes conseguem permanecer magros com mais facilidade, viver mais e não adquirem, ou interrompem, as afecções típicas da obesidade, qualquer que tenha sido a técnica utilizada.
Dessa forma, fica a nossa estranheza, que os projetos de levar a possibilidade do tratamento cirúrgico aos indivíduos já obesos, sequer tenham sido ventilados.
No caso específico do Rio de Janeiro a situação é catastrófica, pois o cidadão que recorre aos hospitais públicos, terá a oportunidade de ter seu pé amputado. Porém, não terá a possibilidade de evitar que isso aconteça, já que não há um único Serviço de Cirurgia Bariátrica em funcionamento.
Essa catástrofe é ainda pior quando nos deparamos com o Diabetes, pois seu tratamento cirúrgico é solenemente ignorado nos hospitais públicos fluminenses.
Pesquisa encomendada pela SBCBM, entre agosto e novembro de 2009, mostra que o Índice de Massa Corporal (IMC) médio dos diabéticos tipo 2 brasileiro, é de 28,6kg/m2. São pacientes com pequeno sobrepeso em relação ao ideal, que é de até 25kg/m2. Ou seja, nem seriam considerados ”gordinhos”.
Segundo o estudo do MS, 5,8% dos brasileiros são diabéticos e essa taxa tende a subir. Falando assim, parece pouco, mas são 11.200.000 - onze milhões e duzentos mil - brasileiros com a terceira causa de morte no pais, atrás apenas das causas coronárias e cardiovasculares.
Aí dá-se um fenômeno interessante, pois as complicações mais graves do Diabetes e da obesidade são as vasculares. Quantos desses enfartos do miocárdio e acidentes cerebrais terão sido causados por diabetes mal controlados e/ou obesidade mórbida? Vê-se, por esse ângulo, a enormidade do problema.
Na visão da SBCBM, os custos do tratamento cirúrgico seriam plenamente justificáveis se os nossos elaboradores de políticas de saúde soubessem ao certo quanto custa um diabético por ano e o impacto disso no orçamento dos indivíduos e do país.
Em estudo publicado esse ano, Tom C. Hall e colaboradores indicam que no Reino Unido as despesas de controle e tratamento do Diabetes e suas patologias relacionadas, monta a 5% do orçamento do sistema de saúde britânico. Isso significa £3.500.000.000,00 - três bilhões e quinhentas milhões libras esterlinas ou R$ 9.297.400.000,00 nove bilhões duzentos e noventa e sete milhões e quatrocentos mil reais. Além disso, há os custos dos hospitais, das pessoas e dos Serviços Sociais.
Essa conta astronômica precisa ser feita por nós, de maneira que possamos avaliar com seriedade a possibilidade de oferecer um modelo terapêutico seguro, construído dentro de padrões éticos e científicos, para milhões de cidadãos que são obesos, não por que querem sê-lo e ainda mais, são diabéticos, ainda que não obesos.
Dr. Mário Victor de Faria Nogueira
Representante da SBCBM no CFM
Dr. Ricardo Vitor Cohen
Presidente da SBCBM
Fonte: Rafael Ernandi
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