A descoberta ajudará a diagnosticar precocemente doença que ainda é confundida com quadros neuropsicológicos, como histeria, e tratada erroneamente com tranqüilizantes em cerca de 90% dos casos atendidos em prontos-socorros.
Estudo realizado pelos departamentos de Bioquímica e de Medicina da UNIFESP identificou o gene responsável por uma doença que acomete cerca de 2% da população com hipertireoidismo e que, até poucos anos atrás, era negligenciada: a Paralisia Periódica Hipocalêmica Tirotóxica (PPHT).
Com a descoberta do gene KCNJ18, o diagnóstico ficará mais fácil e evitará que os cerca de 90% dos pacientes que chegam a prontos-socorros com queixas de paralisia de pernas ou braços sejam tratados como quadros de histeria e medicados erroneamente com tranqüilizantes.
De causa hereditária, a PPHT pode se desenvolver em pessoas com níveis de hormônio da tireóide altos, principalmente quando essa condição se mantém por longos períodos, provocando ataques de fraqueza muscular ou paralisia de membros, alternados com períodos de função muscular normal. Esses ataques ocorrem com maior frequência durante a madrugada, após o sono, ao levantar ou mesmo no repouso. Também não é rara sua ocorrência durante após um período de exercício. “Essas crises podem ser diárias ou anuais; durar poucos minutos, horas ou persistir por dias”, explica o endocrinologista Magnus R. Dias da Silva, vice-chefe do Departamento de Bioquímica da Universidade e um dos autores do estudo. “Podem acometer só as pernas e ou braços, causando tetraplegia periódica”.
Riscos e desconfianças
De acordo com ele, o diagnóstico tardio pode gerar uma série de transtornos e riscos ao indivíduo. “É preciso tratar corretamente o problema para evitar que crises como essa acometam a pessoa quando ela está em situações que podem oferecer risco, como dirigindo um automóvel, durante a prática esportiva ou no trabalho”, afirma. “Apesar de rara, a morte súbita também pode acontecer devido ao rebaixamento dos níveis de potássio no organismo e, consequentemente, ao desenvolvimento de arritmia e paralisia do músculo cardíaco”.
Magnus explica que esses pacientes são, muitas vezes, olhados com desconfiança por profissionais da saúde, por acreditarem que as queixas são mentiras para se conseguir um atestado médico e não trabalhar naquele dia. “Para profissionais pouco esclarecidos com relação à doença é difícil acreditar que a pessoa apresentou paralisia nas pernas na madrugada e chegou andando no hospital horas ou minutos depois do episódio”.
Fatores desencadeantes
O pesquisador esclarece, entretanto, que não basta o indivíduo apresentar mutação no gene KCNJ18 para desencadear as crises. É preciso que haja a junção de outros dois fatores: o hormonal (hipertireoidismo) e o ambiental (ingestão abusiva de carboidrato). “A doença que antes era considerada tipicamente das populações asiáticas e orientais por ser até 10 vezes mais frequente, pode ser diagnosticada também em brancos, negros, mulatos e até mesmo em índios”.
Estudos também sugerem que a testosterona tenha papel facilitador para o desencadeamento das crises de PPHT, já que os homens, entre 16 e 40 anos, têm 30 vezes mais chances de apresentar o problema. Embora raríssimo em mulheres, é mais comum as paralisias acontecerem no período da menopausa ou em tratamento de reposição hormonal.
O tratamento para o problema é simples e na maioria dos casos é bastante efetivo. “Tanto as paralisias quanto as arritmias cessam com medicamentos para normalizar os níveis dos hormônios da tireóide”, explica o endocrinologista. “Nos casos mais graves, podem ser indicados a radioiodoterapia ou a cirurgia para a retirada da glândula”.
Sobre a Unifesp
A Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) foi criada oficialmente em 1994, a partir da Escola Paulista de Medicina, entidade criada em 1933 que foi federalizada em 1956. Na ocasião da criação da Unifesp, a instituição era a primeira universidade brasileira especializada em Saúde, abrigando em seu currículo de graduação os cursos de Medicina, Enfermagem, Fonoaudiologia e Tecnologias Oftálmica e Radiológica.
Em 2005, iniciou-se o projeto de expansão com a criação do campus Baixada Santista. Em 2006 foi criado o campus Guarulhos, seguido de Diadema e São José dos Campos, em 2007, dando seguimento ao processo de ampliação.
O ambicioso processo de expansão fez com que a Universidade saltasse de um para cinco campi e de cinco para 28 cursos. Com os novos campi, a Instituição deixou de atuar exclusivamente no campo da saúde, inaugurando cursos nas áreas de Humanas (Guarulhos), Exatas (São José dos Campos) e Biológicas (Diadema).
Atualmente, a Unifesp conta com 4.442 alunos matriculados nos cursos de Graduação, além de 3.342 discentes nos cursos de Pós-Graduação Stricto Sensu (Doutorado, Mestrado e Mestrado Profissionalizante), outros 8.296 na Pós Graduação Lato Sensu (Especialização e Aperfeiçoamento) e ainda 713 discentes no maior programa de residência médica do Brasil.
A instituição tem em seu quadro 935 docentes, sendo que 94,2% possuem título de doutor, um percentual que marca a qualidade de ensino oferecida pela Instituição.
Em 1940 a universidade, então Escola Paulista de Medicina, inaugurou o Hospital São Paulo, primeiro hospital-escola do País, que hoje é o Hospital Universitário da Unifesp localizado junto ao campus São Paulo, no bairro Vila Clementino.
Ao longo de sua história, a Unifesp se consolidou como um dos principais centros de pesquisa e inovação da América Latina, tendo contribuído com 80.715 trabalhos de produção científica no período entre 2001 e 2009 em várias áreas do conhecimento.
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