Ansiedade, desgaste muscular crônico causado por esforços repetitivos, ou ainda, algumas moléstias neuromusculares ou metabólicas podem causar o problema
É muito comum ouvir dos pacientes a queixa que o olho está ‘tremendo’ ou ‘pulando’... “Na verdade, isso ocorre porque há uma contração involuntária do músculo da pálpebra, semelhante a uma câimbra em alguma outra parte do corpo”, explica o oftalmologista Virgilio Centurion, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares. As pálpebras, explica o médico, são as pregas de pele que recobrem os olhos. Elas são compostas por mais estruturas, além da pele: “ há as glândulas - que contribuem com componentes da lágrima que lubrificam os olhos -, os cílios - que auxiliam a proteger os olhos - e os músculos que, ao contraírem-se, promovem a abertura e o fechamento das pálpebras”, diz.
O músculo orbicular contrai-se com a finalidade de fechar os olhos voluntária ou involuntariamente, ou seja, tanto por reflexo de proteção, quanto para distribuir a lágrima pela superfície ocular. “Algumas vezes, a contração involuntária aparece em freqüência e intensidade aumentadas, geralmente afetando um pequeno grupo de fibras musculares e de forma temporária. É o que chamamos de mioquimia”, explica Fernanda Takay, oftalmologista que integra o corpo clínico do IMO.
O tremor involuntário quase sempre melhora com a redução do consumo de estimulantes - café, chá preto, chá mate, chocolate, coca-cola, guaraná- e com o aumento da ingestão de calmantes naturais - camomila, maracujá. “Se o problema for persistente, o oftalmologista deverá avaliar a possível existência de alterações que possam afetar o funcionamento muscular ou neurológico”, conta a médica.
Outras possibilidades
O blefaroespasmo também inicia-se com o aumento da freqüência do piscar, e o paciente, a princípio, acredita ser uma irritação ocular desencadeada pela luz ou pela diminuição do filme lacrimal. Alguns pacientes podem apresentar também contrações involuntárias de outros grupos musculares. “Um exame oftalmológico e neurológico é necessário para se estabelecer o diagnóstico preciso. Entrópio espástico, triquíase, blefarite, ceratite, síndrome do olho seco e uveíte anterior podem causar um blefaroespasmo reflexo”, diz a médica.
A incidência do blefaroespasmo é maior entre as mulheres, com uma relação de 3:1. A média de idade do início dos sintomas é de 56 anos. “A doença é progressiva, vai evoluindo para espasmos progressivamente mais intensos e duradouros, resultando em períodos de cegueira funcional”, alerta a oftalmologista Fernanda Takay.
A progressão é variável e no estágio precoce é possível haver períodos de remissão e exarcebação. Fatores que desencadeiam ou pioram os sintomas são: luz, estresse, cansaço, dirigir, ler, assistir televisão. Ações como dormir e relaxar podem amenizar os sintomas. “Muitos pacientes, tentando disfarçar o problema, desenvolvem maneirismos, tais como mascar chicletes, bocejar, esfregar as pálpebras com força, assobiar, falar continuadamente e isto, muitas vezes, ocasiona um retardo no diagnóstico”, explica a médica.
Com a progressão da doença, o paciente pode afastar-se do convívio social, pois a frustração e a depressão levam alguns a classificar a doença como psicossomática. “O agravamento do caso clínico traz também problemas físicos devido a constante contração dos músculos contrários à abertura palpebral. Comumente, o paciente queixa-se de apraxia da abertura palpebral - dificuldade de abrir as pálpebras. Esta é a alteração associada ao blefaroespasmo de mais difícil tratamento” relata Takay. Dermatocálaze, ptose de supercílio, blefaroptose e frouxidão dos tendões cantais medial e lateral são outras alterações anatômicas que podem aparecer.
O tratamento do blefaroespasmo é baseado no alívio dos sintomas, com o objetivo que o paciente retorne à sua vida normal. “A injeção da toxina botulínica é um procedimento que oferece uma terapia eficaz no controle dos espasmos musculares. Desde 1989, a droga foi aprovada pelo Food and Drugs Administration, FDA, para tratamento das distonias faciais e do estrabismo”, diz Fernanda Takay.
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