A arte do desenhista, pintor, aquarelista e arquiteto brasileiro Carlos Leão (Rio de Janeiro, 1906 - 1983) enriqueceu o trabalho de grandes artistas brasileiros, como Vinicius de Moraes e Carlos Drummond de Andrade. O público paulistano poderá apreciar parte do acervo deixado pelo artista plástico na exposição “Carlos Leão – Desenhos”, que a CAIXA Cultural (Praça da sé, 111) promoverá, a partir de 14 de março. A entrada é franca.
Com curadoria de Jorge Czajkowski, a mostra apresenta 60 desenhos de Leão, em dimensões variadas. Seus nus femininos, transposição instantânea do transitório, constituem a parte mais considerável de sua obra, pela qual hoje é conhecido e apreciado. Sua arte exemplifica com muita propriedade a fase de captação do momento, do acidente, da fixação do gesto que se traduz pela rapidez do traço e das pinceladas. O desenho rápido e gestual delineia a pose em traços rápidos, captando o perfil; nesse processo, a observação da linha de contorno é fundamental.
Carlos Leão iniciou seu trabalho de ilustrador em 1946, com o livro de Vinicius de Moraes, “Poemas, Sonetos e Baladas”. Até 1980 ilustrou, entre outros, “Boca de Luar” (1980) e “Amor, Amores”, de Carlos Drummond de Andrade, além do álbum “Homenagem a Manuel Bandeira - Cinquentenário do Poeta”.
A exposição “Carlos Leão – Desenhos” ficará em cartaz na CAIXA Cultural (Praça da Sé, 111) de 14 de março a 26 de abril. O horário de visitação é de terça a domingo, das 9h às 21h. A entrada é franca. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 3321-4400 ou no site www.caixa.gov.br/caixacultural.
O artista, por Susana Moraes:
“..... a casa das mil janelas
é a casa do meu irmão
lá dentro esperam elasque
dormem cedo com medo
da Trinca do Cavalão.
Balança rede, balança...”
VINÍCIUS DE MORAES
Carlos Leão era meu tio e meu primo em segundo grau. Casou com tia Ruth, irmã mais velha de minha mãe. Eram primos-irmãos.
Primeiro eu me lembro do Cavalão, uma casa no Saco de São Francisco, em Niterói, onde Tia Ruth e tio Caloca moraram muitos anos. Era como todas as casas que eles tiveram: clara, cheia de pequenos detalhes feitos com tanta curtição e saber que era preciso um tempo para serem percebidos. Não era só uma questão de beleza aparente, mas o fato de que tais proporções e espaços faziam você se sentir bem.
Tio Caloca um dia me disse que boa arquitetura é como boa música, capaz de modificar o que você está sentindo – ritmos, proporções, harmonia.
Mais tarde, quando eu tinha uns oito anos e morava em Los Angeles, ouvi contar que tinham vendido o Cavalão. Caloca gostava de ficar depois do trabalho na cidade, no Villarino ou no Pardelas, tomando uísque com os amigos. Tia Ruth tinha medo de que ele, voltando para Niterói, caísse da barca e se afogasse. Achei engraçado, mas me deu uma angústia, não ia mais ter aquele lugar tão bom.
Quando voltei dos Estados Unidos, eles já tinham comprado a fazenda. A fazenda se chamava Vargas. Discutia-se muito o nome - “Vão achar que sou getulista”- , mas o nome nada tinha a ver com o presidente, já era conhecido na região e ficou Vargas mesmo. É perto de Marquês de Valença, Estado do Rio, uns 100 alqueires num vale alto cercados de matas, Serra do Mar, para mim, Shangri-lá.
Essa casa e os casarões antigos levaram anos sendo reformados, ocre, terra de siena, branco, azul, árvores velhas, o mato úmido verde-escuro ao fundo.
As plantas, ele sabia os nomes em latim, as famílias, gostava de ensinar, não só sobre plantas, mas pintura e literatura, mostrava, me dava coisas para ler.
Adolescente, todo mundo me dizia que o meu tio era um grande desenhista. “Portinari diz que ele é o maior desenhista do Brasil...”mas era uma pena ele fazia os desenhos em pequenas folhas de papel, às vezes o papel que cobria a mesa do bar, amassava e jogava fora. Alguns amigos, Carlos Thiré, Aldary Toledo, também desenhistas, e sobretudo Tia Ruth, quando podiam, desamassavam e guardavam.
Mas em 1946 ele ilustrou um dos primeiros livros de meu pai, “Canções, Sonetos e Baladas”, uma caprichada que nunca foi posta à venda. Havia pilhas e pilhas desse livro debaixo da escada na nossa casa do Leblon, foram sumindo.
Um dia, Tia Ruth me telefonou e disse que Caloca tinha tido um acidente com um olho. Estava muito deprimido, tinha de fazer exercícios para a recuperação. Então, a gente achou ótimo como exercício ele desenhar modelo e fui me oferecer para posar. No princípio ele não queria, não conseguia calcular a distância com o olho acidentado “só vai sair fundura”. Mas começamos e esse acidente e essas sessões iniciaram sua carreira como pintor. Eu adorava posar pra ele, era rápido, a mão sabia fazer depressa desenhos que não se pareciam comigo, mas eram mais parecidos que qualquer fotografia, o corpo com o jeito, o peso, a consistência. Era calmo e excitante, nós dois torcíamos muito sem falar, eu lia, às vezes dormia, inventava posições com ângulos difíceis de onde ele estava pra ver como ia sair. No fim, a gente ficava olhando os desenhos, Tia Ruth vinha ver, ele sempre criticava.
O traço foi mudando e começaram as aguadas, as monotipias, aquarelas, cor, óleos e acrílicos. Ele começou a expor e nos vernissagens tomava sempre um pileque. Era tímido e orgulhoso, muito exigente. Amava os desenhos, queria sempre mais. Não sabia vender e sempre dava confusão com os marchands.
Faço cinema e o primeiro filme que fiz foi sobre ele, “Pode fazer se eu não tiver que falar nada”. Outro dia revi esse filme por causa dessa exposição e fiquei contente. Tem um plano, um close no qual você vê a mão dele fazer o braço e o ombro de uma mulher. Você vê como aquilo sai e é uma maravilha.
Serviço:
Exposição “Carlos Leão – Desenhos”
De 14 de março (a partir de 11h) a 26 de abril, de terça a domingo, das 9h às 21h
CAIXA Cultural (Praça da Sé, 111)
Entrada franca
Informações: (11) 3321-4400
Recomendação de faixa etária: livre
Realização: CAIXA Cultural
Patrocínio: Caixa Econômica Federal
www.caixa.gov.br/caixacultural
Acesso e sanitário para pessoas com necessidades especiais
Visitas monitoradas às exposições com agendamento
Assessoria de Imprensa
Caixa Econômica Federal
*
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Mural:
Com curadoria de Jorge Czajkowski, a mostra apresenta 60 desenhos de Leão, em dimensões variadas. Seus nus femininos, transposição instantânea do transitório, constituem a parte mais considerável de sua obra, pela qual hoje é conhecido e apreciado. Sua arte exemplifica com muita propriedade a fase de captação do momento, do acidente, da fixação do gesto que se traduz pela rapidez do traço e das pinceladas. O desenho rápido e gestual delineia a pose em traços rápidos, captando o perfil; nesse processo, a observação da linha de contorno é fundamental.
Carlos Leão iniciou seu trabalho de ilustrador em 1946, com o livro de Vinicius de Moraes, “Poemas, Sonetos e Baladas”. Até 1980 ilustrou, entre outros, “Boca de Luar” (1980) e “Amor, Amores”, de Carlos Drummond de Andrade, além do álbum “Homenagem a Manuel Bandeira - Cinquentenário do Poeta”.
A exposição “Carlos Leão – Desenhos” ficará em cartaz na CAIXA Cultural (Praça da Sé, 111) de 14 de março a 26 de abril. O horário de visitação é de terça a domingo, das 9h às 21h. A entrada é franca. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 3321-4400 ou no site www.caixa.gov.br/caixacultural.
O artista, por Susana Moraes:
“..... a casa das mil janelas
é a casa do meu irmão
lá dentro esperam elasque
dormem cedo com medo
da Trinca do Cavalão.
Balança rede, balança...”
VINÍCIUS DE MORAES
Carlos Leão era meu tio e meu primo em segundo grau. Casou com tia Ruth, irmã mais velha de minha mãe. Eram primos-irmãos.
Primeiro eu me lembro do Cavalão, uma casa no Saco de São Francisco, em Niterói, onde Tia Ruth e tio Caloca moraram muitos anos. Era como todas as casas que eles tiveram: clara, cheia de pequenos detalhes feitos com tanta curtição e saber que era preciso um tempo para serem percebidos. Não era só uma questão de beleza aparente, mas o fato de que tais proporções e espaços faziam você se sentir bem.
Tio Caloca um dia me disse que boa arquitetura é como boa música, capaz de modificar o que você está sentindo – ritmos, proporções, harmonia.
Mais tarde, quando eu tinha uns oito anos e morava em Los Angeles, ouvi contar que tinham vendido o Cavalão. Caloca gostava de ficar depois do trabalho na cidade, no Villarino ou no Pardelas, tomando uísque com os amigos. Tia Ruth tinha medo de que ele, voltando para Niterói, caísse da barca e se afogasse. Achei engraçado, mas me deu uma angústia, não ia mais ter aquele lugar tão bom.
Quando voltei dos Estados Unidos, eles já tinham comprado a fazenda. A fazenda se chamava Vargas. Discutia-se muito o nome - “Vão achar que sou getulista”- , mas o nome nada tinha a ver com o presidente, já era conhecido na região e ficou Vargas mesmo. É perto de Marquês de Valença, Estado do Rio, uns 100 alqueires num vale alto cercados de matas, Serra do Mar, para mim, Shangri-lá.
Essa casa e os casarões antigos levaram anos sendo reformados, ocre, terra de siena, branco, azul, árvores velhas, o mato úmido verde-escuro ao fundo.
As plantas, ele sabia os nomes em latim, as famílias, gostava de ensinar, não só sobre plantas, mas pintura e literatura, mostrava, me dava coisas para ler.
Adolescente, todo mundo me dizia que o meu tio era um grande desenhista. “Portinari diz que ele é o maior desenhista do Brasil...”mas era uma pena ele fazia os desenhos em pequenas folhas de papel, às vezes o papel que cobria a mesa do bar, amassava e jogava fora. Alguns amigos, Carlos Thiré, Aldary Toledo, também desenhistas, e sobretudo Tia Ruth, quando podiam, desamassavam e guardavam.
Mas em 1946 ele ilustrou um dos primeiros livros de meu pai, “Canções, Sonetos e Baladas”, uma caprichada que nunca foi posta à venda. Havia pilhas e pilhas desse livro debaixo da escada na nossa casa do Leblon, foram sumindo.
Um dia, Tia Ruth me telefonou e disse que Caloca tinha tido um acidente com um olho. Estava muito deprimido, tinha de fazer exercícios para a recuperação. Então, a gente achou ótimo como exercício ele desenhar modelo e fui me oferecer para posar. No princípio ele não queria, não conseguia calcular a distância com o olho acidentado “só vai sair fundura”. Mas começamos e esse acidente e essas sessões iniciaram sua carreira como pintor. Eu adorava posar pra ele, era rápido, a mão sabia fazer depressa desenhos que não se pareciam comigo, mas eram mais parecidos que qualquer fotografia, o corpo com o jeito, o peso, a consistência. Era calmo e excitante, nós dois torcíamos muito sem falar, eu lia, às vezes dormia, inventava posições com ângulos difíceis de onde ele estava pra ver como ia sair. No fim, a gente ficava olhando os desenhos, Tia Ruth vinha ver, ele sempre criticava.
O traço foi mudando e começaram as aguadas, as monotipias, aquarelas, cor, óleos e acrílicos. Ele começou a expor e nos vernissagens tomava sempre um pileque. Era tímido e orgulhoso, muito exigente. Amava os desenhos, queria sempre mais. Não sabia vender e sempre dava confusão com os marchands.
Faço cinema e o primeiro filme que fiz foi sobre ele, “Pode fazer se eu não tiver que falar nada”. Outro dia revi esse filme por causa dessa exposição e fiquei contente. Tem um plano, um close no qual você vê a mão dele fazer o braço e o ombro de uma mulher. Você vê como aquilo sai e é uma maravilha.
Serviço:
Exposição “Carlos Leão – Desenhos”
De 14 de março (a partir de 11h) a 26 de abril, de terça a domingo, das 9h às 21h
CAIXA Cultural (Praça da Sé, 111)
Entrada franca
Informações: (11) 3321-4400
Recomendação de faixa etária: livre
Realização: CAIXA Cultural
Patrocínio: Caixa Econômica Federal
www.caixa.gov.br/caixacultural
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Visitas monitoradas às exposições com agendamento
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Caixa Econômica Federal
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